domingo, 7 de julho de 2013

FILTRAÇÃO DIRETA - UM APANHADO

O PROSAB - Programa de Pesquisas em Saneamento Básico focou um dos seus estudos em uma das etapas fundamentais do ciclo tratamento da água para consumo humano, a filtração, mais precisamente aprofundando sobre Filtração Direta, (FD) modelo de tratamento que vem se expandindo no Brasil e no mundo. A pequisa do "edital 03" dentre os 05 lançados, foi coordenada pelo Engenheiro, mestre e doutor em engenharia civil, Luiz Di Bernardo. O resultado desse trabalho foi resumido em um livro lançado em 2003 que pode ser encontrado no seguinte site: BAIXAR LIVROS DO PROSAB.
Pretendo fazer a leitura de todos eles, mas pelo motivo da real importância sanitária resolvi começar por este que trata de um tema em que as discussões continuam aflorando os pesquisadores no mundo do saneamento. Na ETA que trabalho venho acompanhando o desempenho dos filtros e ainda não encontrei respostas concretas para os picos de turbidez que acontecem em alguns deles, além da perda de areia constante descendo direto para a câmara de contato. Também, instigado pelo coordenador de tratamento, Químico da embasa, Noelson Dória, que questiona muito em modificar a Estação de Tratamento Convencional de Ibititá em FD, uma vez que a água bruta recebida naquela Estação tem cor (uH)  ideal, na maior parte do ano, para este estilo de tratamento. Se assim acontecer, teremos uma "dupla estação"  Direta e Convencional, assim, de acordo com a qualidade da água a ser tratada o Operador escolherá qual modelo ideal usar, bastará fazer algumas manobras e pronto. Nas quase 500 páginas do livro e em outros lidos, não encontrei nada que alimentasse essa ideia. Assim acontecendo, será o precursor da Direta e Convencional! Mais um modelo, por quê não?!
A portaria do Ministério da Saúde (MS) 1469/2000, que entrou em vigor em 2002, substituindo a 036/1990,  estabeleceu os valores máximos permitidos (VMP) para "todos", que se pode identificar, os contaminantes orgânicos e inorgânicos presentes na água potável. Para atender aos requisitos da portaria é necessário que o tratamento disponha de uma boa filtração, é nessa etapa que organismos Patógenos, resistente à desinfecção, como o cistos de Giardia e o oocistos de Crytosporidium sejam removidos. A referida portaria limitava o valor máximo de 1,0 uT (Unidades de Turbidez) para o efluente de filtração, mas recomendava operacionalizar com valores até 0,5 uT, acreditando que nessa faixa eliminaria os citados enterovírus por total. A nova portaria, 2914/11 no seu artigo 29º, § 2º vem atender ao que previa a anterior e limita em 0,5 uT o VMP para filtração rápida, incluindo a Filtração Direta, e 1,0 uT o VMP para filtros lentos, por terem maior eficiência. O processo agora fica por conta das Empresas de Saneamento em cumprir as determinações da lei e do poder de fiscalização do MS em acompanhar os desvios de turbidez fora do padrão estabelecido.
O autor faz um breve resumo sobre os tipos de Estações e do Saneamento em nosso país e na notoriedade traz o Nordeste como pior região: A que menos tem água canalizada seguido de redes de esgoto, volume de água fornecida não é totalmente tratada, Mortalidade Infantil em mais de 50% e 65 anos de expectativa de vida (IBGE 2000). Situações estas vem se arrastando até os dias atuais e investimentos prometem modificar para melhor estas questões.
Quanto as estilos de estações, a Convencional predomina em todas as Regiões do Brasil seguidos em ordem pela Filtração Direta Ascendente (Filtro Russo),  Filtração Direta descendente, Filtração Lenta e poucas unidades de Dupla Filtração ( composta de um filtro Ascendente e outro Descendente) - Pesquisas realizadas com as ETAs da CESB - Companhias Estaduais de Saneamento Básico. Estes dados não dão uma visão segura da verdadeira cronologia dessas ETAs, pois na pesquisa não entra aquelas operacionalizadas pelos SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto e nem aquelas administradas por consórcios. Na  embasa, que tem sua estrutura organizacional dividida por Unidades de Negócios, existem diversas ETAs, somente a UN Irecê compõe de 07 Estações: 03 em estilo Filtro Russo com vazão que vai de 8 a 22 l/s e 04 Convencionais de 9 a 750 l/s. A mais recente trata água do Velho Chico.
Veja a figura 01 com relações de Estações e suas estruturas:

As pequisas apontaram algumas vantagens da Filtração Direta em relação à Convencional e a não aceitação do estilo de tratamento em alguns países, como é o caso dos EUA que não recomenda para o consumo humano. Tratando de gastos é bem visível porque as ETAs FD não necessitam de floculadores e nem decantadores, apenas coagulação, floculação (eventualmente) até chegar aos filtros. Segundo os pesquisadores a FD  facilita a operação e manutenção, requer menos produtos químicos (gerando menos lodo) e a economia na infraestrutura por ser bem mais compacta.
Apontam como desvantagens a impossibilidade de tratar águas com turbidez e/ou cor elevada, além do curto tempo de detenção da água na ETA, dificultando tomar medidas corretivas quando necessitar.
Nos trabalhos aparece a Dupla Filtração, não muito comum na embasa, com significância de bons resultados em relação à Filtração Direta Ascendente  e FDDescendente, por existirem dois filtros ela permite: o tratamento de água com qualidade ruim, dispensar o descarte de água filtrada no início da carreira de filtração, apresentar maior remoção de microrganismos e menor risco sanitário.
Uma vantagem observável da Dupla Filtração com a filtração tradicional é o descarte de água no início da carreira de filtração. Na ETA que trabalho, a prática até então, é a lavagem do filtro em torno de no máximo 6 minutos, com água contra corrente e logo após se inicia a carreira. Os pesquisas ratificadas na gramática estudada ressalta a importância de uma boa lavagem para garantir uma água final com qualidade e orienta que seja descartada certa quantidade de água tratada para eliminar por total a água de lavagem que ficou no leito filtrante. Com o filtro descendente da ETA convencional não é contrário dos que necessitam, por mais que pareça bem lavado, ainda fica restos de água de lavagem no filtro e portanto necessita que seja feita uma drenagem na intenção de eliminar essa sujeira e diminuir a turbidez do efluente. O inconveniente é que o tempo para realizar tal operação aumenta em torno de 20 minutos e algumas manobras a mais serão necessárias. O tempo para drenar a água, da canaleta até à areia, dura 15 minutos, pois o tubo do dreno tem diâmetro bem inferior, 4 ". O importante dessa operacionalidade é a garantia sanitária da água. Veja a figura 02 abaixo, com testes realizados em um dos filtros da ETA Ibititá -Ba. Obs: sem uso de coagulante.
O filtro foi lavado, em cinco minutos, como consta a operação de sempre e em outra operação foi lavado com o mesmo tempo até remover toda sujeira, foi fechado o registro geral da água para lavagem e aberto o registro pequeno para drenar a água. O volume gasto na drenagem é equivalente a 01 minuto da lavagem normal.
Após 5 minutos colocado em operação foi coletada a primeira amostra para análise em turbidímetro digital. O tempo de coleta foi se estendendo de 10 min para 20 min e depois para horas. Fica o estudo para atitudes operacionais!
Dentre muitos outros aspectos positivos encontrados na gramática lida posso ressaltar a posição dos pesquisadores quanto à qualidade dos serviços prestados à população e eles atribuem isso à qualificação profissional dos operadores das ETAs. "Muitos problemas observados nas ETAs brasileiras, que levam à produção de água que não atende ao padrão de potabilidade e ao aumento dos custos operacionais, estão relacionados ao baixo nível de qualificação de parte dos operadores". Isso é notório e indiscutível e para que esta situação seja convertida para melhor é necessário que as empresas proporcionem capacitação constante, assim como o operador deve se capacitar, ambos precisam de interação qualificativa, de modo que um perceba e valorize as atitudes do outro. Atitudes de muitos gestores, Brasil afora,  sem qualificação "é apenas punição  pois não refletem eles, que o empregado responsável é passível de erro" (Kuroda, 2002), ainda mais quando este não tem qualificação para exercer a função que se enquadra no momento.
Gervásio  -  julho 2013